Cheguei à casa que frequentava há alguns anos e para meu
espanto faltava algo importante no jardim.
Perguntei o que tinha acontecido com a espatodia e o meu
sogro naquele então, respondeu-me: Mandei cortar ela era muito porca.
Porca como? E ele respondeu: Eu tinha que varrer o gramado
todos os dias, pois ora eram as folhas, ora eram suas flores, e por fim suas
sementes que caiam e se espalhavam com o vento sujando tudo.
Nunca
tinha ouvido tais adjetivos para qualificar uma árvore.
O choque e a tristeza me abateram simultaneamente
e instantaneamente. Não conseguia entender como alguém tinha capacidade de
cortar uma árvore maravilhosa com justificativas tão insanas. Santa ignorância!
Sempre que planto uma árvore são justamente essas coisas que fazem
parte da sua vida que eu curto. Vê-las crescer, sua folhagem, suas flores,
frutos, sementes, sombra, etecetera.
Parara ilustrar, seguem abaixo
fotografias da “árvore porca” que coletei na internet.
Este ano vendi aquela que foi minha
casa, meu lar, onde criei meus filhos, onde vivi 30 anos, ou seja, mais da
metade da minha vida. Para mim foi mais uma prova que a vida me impôs, esta vez
de desapego. Mas fazer o quê? Já não podia mantê-la e ela estava morrendo,
definhando, por falta de cuidados e de amor.
Podem achar que sou louca, mas para mim ela tinha vida e
muitas histórias para contar.
Alguns dias atrás meu filho disse que passou pela porta da
casa e que os novos proprietários haviam feito uma limpa. Limpa como perguntei?
Pasmei, fiquei estarrecida ao saber que haviam cortado as três bouganvilleas e
dois fícus citrifolia gigantes, que eu havia plantado na frente da casa que já
estavam com mais de vinte anos.
Essas árvores serviam, entre outras coisas, como referência
para chegar até a minha residência. Mas isso era o de menos, o mais importante para
mim era mesmo a beleza exuberante das bouganvilleas com mais de dez metros de
altura, que quando estavam floridas geravam um espetáculo tão maravilhoso que
as pessoas paravam na rua para fotografar. Os fícus também eram lindos com seus
troncos majestosos, sua folhagem sempre brilhante e suas frutinhas vermelhas.
Alguns anos antes de vender minha
casa, em uma época que estava muito doente, de cama e depressiva, foram os
fícus que me mantiveram viva. Eu os olhava quase que o tempo todo, em seus
galhos sabiás, saíras-sete-cores e sanhaços, entre outros, cantavam e pousavam
para se alimentar das tais sementinhas vermelhas. Além disso, também serviam de
berçário, acolhendo ninhos com segurança.
Para ilustrar melhor sobre o que
estou falando coloco outras tantas fotos, começando pelos ficus citrofilia e depois uma das minhas extintas bougavilleas.
Quando penso que milhares de árvores
são cortadas por semana, meu coração fica apertado, não consigo entender como
pessoas esclarecidas cometem ou ordenam que se cometam tais crimes, destruindo
ecossistemas, biomas, biosfera, em fim, somando tudo, condenando o planeta
Terra e seus habitantes.
Estão transformando a Floresta
Amazônica em um deserto, da Mata Atlântica só sobraram alguns tufos.
Não me digam que é o progresso, pois
isso podia engambelar as crianças do início do século passado, a mim jamais.
Meu Pai, como podem dizimar
espécies, florestas inteiras sem dó nem piedade? Estamos no século XXI e as
pessoas deveriam ser mais esclarecidas, ter consciência dos seus erros e das
suas consequências.
Existem muitas coisas que me causam
indignação, mas por hoje só suporto falar destas.
É
uma gota em um oceano? Sim, hoje é a minha gota e sem ela o oceano não seria o
mesmo. Não sei a quem estou plagiando com esta frase, mas foi ela que me veio à
cabeça e era dela que eu precisava neste momento
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