quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

O resgate



Estou de saída, no saguão de um edifício comercial importante, com portas automáticas, daquelas que tem sensor de presença, como as dos aeroportos.
Há muita gente, muitos elevadores, um vai e vêm sem fim, pessoas conversam alto, parecem mais um bando de maritacas, eu já estou atordoada.
Onde está a educação? Por que as pessoas não sabem falar baixo, principalmente em lugares públicos? É só ter bom senso, não me interessa a vida de um desconhecido, principalmente porque na maioria das vezes a conversa é fútil, como se estivessem em um salão de beleza, em uma barbearia, em uma academia de ginástica ou no Maracanã.
Estou ali para entregar um documento ao meu advogado e depois voltar para casa.
Ao me encaminhar para uma das portas de saída, tenho uma sensação estranha, olho para a rua e vejo que o dia escurece rapidamente, mas ainda é cedo. Ao chegar à porta, ela está fechada e não abre. Todas as portas estão fechadas, ninguém entra nem sai.
As pessoas gritam escandalosamente, mas “algo” me diz: Se prepara que isto é só o começo.
Em questão de segundos tudo começa a tremer e balançar como se fosse um terremoto, me segurei em uma pilastra com firmeza.
Pergunto-me o que está acontecendo?
Uma voz me responde telepaticamente, enquanto sacudimos dentro do edifício como se estivéssemos dentro de um liquidificador: É a Terra que está em uma velocidade de rotação sobre o seu eixo muito maior do que a habitual.

Penso nas pessoas que estão na rua e em meus filhos, o que estará acontecendo com eles no meio deste turbilhão?
A voz que me acompanha responde prontamente: Não se preocupe cada um terá o que merece, chegou a hora de limpar este planeta. Em poucos minutos a Terra voltará a girar normalmente, mas você não deve se assustar com o que verá lá fora. Sua missão é encontrar uma criança que será baleada. Siga a sua intuição que você a encontrará, não se esqueça de que nada é por acaso. Depois que encontrar a criança você entenderá tudo e estará pronta para a viagem. Fico tensa e não quero pensar em mais nada além da minha tarefa.
Quando tudo volta ao normal, se é que essa palavra se encaixa nesta situação, saio do edifício o mais rápido que posso, e para meu espanto as pessoas que estavam nas ruas antes do “Gira Mundo” tinham sumido como por encanto.
A limpeza foi feita, até os carros e ônibus que circulavam naquele espaço de tempo desintegraram sem deixar rastros.
As ruas que estão vazias e começam a receber a população que tinha ficado presa em edifícios e casas. Todos andando como baratas tontas sem saber o que fazer ou para onde ir.
Eu não posso perder tempo com questionamentos.
Tenho que me concentrar em encontrar a criança, ela depende de mim.
Enquanto caminho, sinto que minha percepção está mais aguçada e me diz que direção devo seguir.
Nisso vejo um homem tentando assaltar uma senhora, digo tentando porque na mesma hora ele desintegra, está fora dos padrões permitidos no novo planeta. Ui! Que maravilha!
Ouço um tiro, fico desesperada e corro em direção ao som. Logo encontro uma multidão. Entro no meio dela, peço licença e empurro até alcançar o que eu penso ser a criança que tenho que salvar.
Instantes de desespero, eu só penso: Cheguei tarde.
Lá no centro do aglomerado, está ela, me aproximo, a pego no colo e saio daquele local o mais rápido que posso. Estou frustrada, não pude evitar que a criança fosse ferida, sinto o seu sangue quente escorrer por minhas roupas, mas ela respira e sinto que seu coração bate junto ao meu peito.
Estou desesperada, desatinada e decepcionada, aí ouço a voz pela última vez: Você cumpriu sua missão, encontrou a criança baleada. Agora serão encaminhados para um planeta de paz.
 A Terra? Esta continuará em seu processo de purificação até que o homem perceba como deve se comportar.
As pessoas que sumiram estão em um planeta inferior sendo auxiliadas por curadores até que percebam seus erros e possam ascender para a Terra.
Que assim seja e assim será.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Oba! Oba! Brasil il il il il...


Caros amigos leitores,

Chega de tanta besteira, afinal de contas estamos no ano da Copa.

Parece que estou vendo as cidades vestidas de bandeirolas verdes e amarelas.
Teremos concursos para eleger a rua mais bonita, e a cada jogo da nossa seleção  vestiremos  verde e amarelo para dar sorte.

Até a minha vizinha, dona Dilma, já está preparando o seu enxoval para a ocasião.

O foguetório a cada vitória dos nossos heróis será o MAIOR que o mundo já viu.

O Brasil será hexa campeão minha gente, alegria, alegria!

Fiquemos felizes, futebol e cerveja rolando.

 Antigamente para calar um povo bastava dar o pão e circo, mas as coisas mudaram.

Trinta dias de folia e brincadeira, você pra lá eu pra cá até...

Que maravilha! Estou muito orgulhosa, pois no nosso país não temos com que nos preocupar.

Não há violência, a vida de um cidadão vale ouro.

Creches e escolas de primeiro mundo para todos, uma educação de primeiro mundo e gratuita, caros colegas.

Inexiste fome, desemprego, enchentes e secas, o transporte gratuito para todos e a área da saúde é a melhor do MUNDO.

Temos os hospitais melhor aparelhados do planeta, existem mais médicos que doentes. É verdade, exportamos mão de obra qualificada até para Cuba.
Os salários são dignos, com jornada de 6 horas e um emprego basta para sustentar uma familia com todas as regalias (casa, comida, vestuário, diverção e arte  

Findada esta palhaçada teremos outra ainda melhor: Eleições.

Desta eu me privo de falar no momento, pois ainda estou nauseada com a copa e minha saúde não é de ferro.

Não se esqueçam de que cada país tem o governo que merece.