Estou
de saída, no saguão de um edifício comercial importante, com portas
automáticas, daquelas que tem sensor de presença, como as dos aeroportos.
Há muita
gente, muitos elevadores, um vai e vêm sem fim, pessoas conversam alto, parecem
mais um bando de maritacas, eu já estou atordoada.
Onde
está a educação? Por que as pessoas não sabem falar baixo, principalmente em
lugares públicos? É só ter bom senso, não me interessa a vida de um
desconhecido, principalmente porque na maioria das vezes a conversa é fútil,
como se estivessem em um salão de beleza, em uma barbearia, em uma academia de
ginástica ou no Maracanã.
Estou
ali para entregar um documento ao meu advogado e depois voltar para casa.
Ao
me encaminhar para uma das portas de saída, tenho uma sensação estranha, olho
para a rua e vejo que o dia escurece rapidamente, mas ainda é cedo. Ao chegar à
porta, ela está fechada e não abre. Todas as portas estão fechadas, ninguém
entra nem sai.
As
pessoas gritam escandalosamente, mas “algo” me diz: Se prepara que isto é só o
começo.
Em
questão de segundos tudo começa a tremer e balançar como se fosse um terremoto,
me segurei em uma pilastra com firmeza.
Pergunto-me
o que está acontecendo?
Uma
voz me responde telepaticamente, enquanto sacudimos dentro do edifício como se
estivéssemos dentro de um liquidificador: É a Terra que está em uma
velocidade de rotação sobre o seu eixo muito maior do que a habitual.
Penso
nas pessoas que estão na rua e em meus filhos, o que estará acontecendo com
eles no meio deste turbilhão?
A voz
que me acompanha responde prontamente: Não se preocupe cada um terá o que
merece, chegou a hora de limpar este planeta. Em poucos minutos a Terra voltará
a girar normalmente, mas você não deve se assustar com o que verá lá fora. Sua
missão é encontrar uma criança que será baleada. Siga a sua intuição que você a
encontrará, não se esqueça de que nada é por acaso. Depois que encontrar a criança você entenderá tudo e estará pronta
para a viagem. Fico tensa e não quero pensar em mais nada além da minha tarefa.
Quando
tudo volta ao normal, se é que essa palavra se encaixa nesta situação, saio do edifício
o mais rápido que posso, e para meu espanto as pessoas que estavam nas ruas
antes do “Gira Mundo” tinham sumido como por encanto.
A
limpeza foi feita, até os carros e ônibus que circulavam naquele espaço de
tempo desintegraram sem deixar rastros.
As ruas
que estão vazias e começam a receber a população que tinha ficado presa em
edifícios e casas. Todos andando como baratas tontas sem saber o que fazer ou
para onde ir.
Eu
não posso perder tempo com questionamentos.
Tenho
que me concentrar em encontrar a criança, ela depende de mim.
Enquanto
caminho, sinto que minha percepção está mais aguçada e me diz que direção devo
seguir.
Nisso
vejo um homem tentando assaltar uma senhora, digo tentando porque na mesma hora
ele desintegra, está fora dos padrões permitidos no novo planeta. Ui! Que
maravilha!
Ouço
um tiro, fico desesperada e corro em direção ao som. Logo encontro uma
multidão. Entro no meio dela, peço licença e empurro até alcançar o que eu penso
ser a criança que tenho que salvar.
Instantes
de desespero, eu só penso: Cheguei tarde.
Lá
no centro do aglomerado, está ela, me aproximo, a pego no colo e saio daquele
local o mais rápido que posso. Estou frustrada, não pude evitar que a criança
fosse ferida, sinto o seu sangue quente escorrer por minhas roupas, mas ela
respira e sinto que seu coração bate junto ao meu peito.
Estou
desesperada, desatinada e decepcionada, aí ouço a voz pela última vez: Você
cumpriu sua missão, encontrou a criança baleada. Agora serão encaminhados para
um planeta de paz.
A Terra? Esta continuará em seu processo de
purificação até que o homem perceba como deve se comportar.
As
pessoas que sumiram estão em um planeta inferior sendo auxiliadas por curadores
até que percebam seus erros e possam ascender para a Terra.
Que
assim seja e assim será.
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