Era
uma vez, uma família aparentemente feliz, que vivia em uma pequena cidade do
interior, digo aparentemente, pois nunca se sabe o que acontece entre quatro
paredes e as aparências também podem enganar.
A
esposa se chamava Amélia, era jovem, bonita, dedicada, amorosa, inocente e
abandonara a faculdade para realizar o sonho de ter a sua família.
O
marido era quase dez anos mais velho que ela e atendia pelo nome de Padilha. Era
um homem maduro, bem sucedido, porém seu trabalho exigia muito do seu tempo e isso o transformava em uma pessoa muito ausente. Sempre que chegava a sua casa reclamava
muito do cansaço, da falta de tempo e do fato de estar sempre enrolado. Às
vezes Amélia brincava e o chamava de doutor carretel.
Padilha
era um provedor razoável, o dinheiro nunca faltava porem não sobrava.
E assim, sem maiores inconvenientes, eles
tocavam suas vidas.
Depois
de alguns anos, para a alegria e realização de Amélia, vieram os filhos e com
eles, como era de se esperar, alegrias, muito trabalho e preocupações. Ela era
mãe extremamente zelosa, nunca admitiu babás, a única ajuda que ela aceitava de bom grado era a de sua
mãe e de vez em quando a da sua sogra.
Os
anos foram passando e com eles surgiu o desgaste, nada de anormal até aqui, se
não fosse pelo fato que Amélia fora passar as férias com as crianças na Região
dos Lagos e que no seu regresso aconteceria uma reviravolta em sua vida.
No
final de semana seguinte a sua chegada, eles tiveram que ir a uma grande festa
em um clube da cidade. Era mais um churrasco de confraternização da turma que Padilha
cursara na faculdade, onde também estariam presentes os familiares.
Aquela
farra! Muita bebida, muita carne e muita bebida.
O resultado desses encontros eram sempre os
mesmos, bêbados paquerando as esposas dos amigos e vice versa, gente passando
mal, grupinhos fofocando, grupinhos se exibindo com roupas de grife, competição
para ver quem tinha o carro mais caro, etc.
Os
papos femininos eram sempre os mesmos, as mulheres contando todas as gracinhas
que os filhos faziam, depois era a vez da dificuldade que tinham com as babás e
ou empregadas, falar mal das sogras ou de alguém da família do marido, fofocar
sobre a vida de algum ausente também era um prato a ser degustado com muito
prazer por todas.
Amélia
tinha pavor dessas festas, preferia ficar brincando com as crianças a ter que
participar do rol de falsidade e futilidade das madames.
Enquanto
isso, os homens ficavam comentando sobre como eram profissionais reconhecidos,
valorizados e bem pagos em suas cidades. Alguns comentavam sobre novas técnicas
mirabolantes e revolucionárias (só mentiras) que tinham aprendido em algum
congresso, de preferência, do outro lado do mundo. Haviam os que discutiam sobre
futebol e outros que adoravam tirar vantagem dizendo que tinham transado com
fulanas e com sicranas.
De
alguma maneira todos sempre se pavoneavam.
Amélia
já sabia de antemão o que aconteceria, mas para a sua surpresa, com certeza,
esta confraternização extrapolaria todas as suas expectativas e nunca seria
esquecida.
Quando estava no banheiro, com a porta fechada
é óbvio, tentando fazer xixi, entraram duas mulheres e enquanto esperavam, começaram a falar mal de um homem, dizendo coisas como:
–
Ele é muito cara de pau.
– Isso é uma falta de respeito.
– Onde já se viu trazer a amante e seu filho
com ela, para o mesmo lugar onde estão sua esposa e filhos?
– É um cretino mau caráter.
– Bem que o meu marido tinha me avisado para ficar longe dele.
– Quanta maldade! Que coragem! Justo com a
enfermeira que todo mundo convive.
– Você sabia que a Arminda e o menino
frequentam a casa deles?
–
Já imaginou o que poderia acontecer se a coitada da Amélia ficasse sabendo desse
caso que o Padilha tem há anos bem debaixo do seu nariz?
– Não tem jeito, a esposa sempre é a última, a saber.
Amélia
abriu a porta de um rompante. As duas fofoqueiras gelaram, ficaram mais brancas
que algodão. Amélia agradeceu pela amizade e pela fidelidade.
Saiu soltando
fogo pelas ventas.
A
festa finalmente iria começar(pensou ela)!
Decidida, foi atrás do marido e para azar dele, foi encontrado com a boca
na botija. Enquanto falava com a Arminda e fazia cafuné em seu filho.
Sem
medo de dar escândalo ela “escovou a fantasia” dos dois, eles pareciam encolher
a cada palavra que a Amélia proferia.
As
pessoas foram se aglomerando ao redor, primeiro com muita curiosidade e depois
de saber do que se tratava, querendo ver o circo pegar fogo.
Humanos!
A
tal da Arminda ficou com a imagem mais suja do que pau de galinheiro, menor do que nitrato de pó
de merda e foi aí que o Padilha resolveu abrir a boca:
–
Fica calada, fica quietinha, que depois, em casa eu te explico. Vou levá-los embora e mais tarde nos falamos.
Padilha
estava por levar a amante, o filho e a família da amante em casa. Era um número
de pessoas que não cabia no carro dele.
Amélia
gritou de onde estava que ele tinha que comprar uma van.
Padilha
mandou-a calar a boca e disse que se ela continuasse o casamento deles estava acabado.
Acabado?
Perguntou Amélia
Vai se foder seu filho da puta.
Curta, simples e objetiva.
Depois
virou as costas, foi procurar os seus filhos no parquinho do clube, pois só
eles a preocupavam. Ao encontrá-los ficou feliz porque percebeu que eles não
sabiam do ocorrido.
Pegou
suas crianças e foram tomar sorvete.
Nada
melhor que sorvete depois de um churrasco.
A caminho do seu lar, ela pegou um chaveiro e
mandou trocar todas as fechaduras da casa.
Enquanto
as crianças tomavam banho antes de dormir, ela ligou para o seu pai, que era um
dos melhores advogados do estado, contou tudo e fim de papo.
Moral
da história: Tenha sempre um advogado de confiança na família
Pergunta
que não quer calar: Tem algum advogado que possa me adotar?
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