segunda-feira, 14 de maio de 2012

Temporal


Temporal de sentimentos e idéias

Chove muito, estou descalça e meus pés cheios de lama.

Lama fresca e avermelhada, feita com terra e água pura.

Pulo nas poças do caminho com firmeza.

Faço com que a água barrenta espirre para todos os lados.

A água escorre pelo meu rosto fazendo cócegas.

Meus cabelos e minha roupa estão deliciosamente ensopados.

Sinto-me livre, pura e limpa.

Meu canto é desafinado, mas canto mesmo assim.

Minhas pernas estão fracas, porém continuo a caminhada.

Deixo as dores para trás e mantenho meu olhar no agora.

A natureza também é lavada, o verde brilha ao meu redor.

Ouço barulho de água, parece que há um rio por perto.

Vou ao seu encontro e percebo que ele está apressado.

Para que correr? Isso não mudará o seu destino.

Eu? Não tenho pressa, paro e observo tudo com tranquilidade.

A natureza sempre traz mensagens para quem está atento.

Eu e ela estamos em comunhão.

Parece irreal, e talvez o seja aos olhos de um simples mortal.

Para quem só sabe olhar posso parecer uma louca, suja e desgrenhada.

O que eles pensam não faz diferença, só sabem julgar as aparências.

Louca eu? É obvio que sim.

Quem além de mim sairia por ai com um tempo desses sem proteção?

Alguns podem até ter vontade, mas estão presos ao medo.

Medo eu?  Só um, o de ser normal.

Não quero me misturar com a multidão.

Amo ficar por aqui, andando descalça na chuva e com os pés enlameados.

Alguns, no entanto, andam com seus sapatos sociais, desconfortáveis e imundos de prosperidade e riqueza.

Deixando em suas pegadas a marca das dores dos que pisaram.

Nada tenho nada contra essas duas damas, a Prosperidade e a Riqueza.

Os que correm atrás delas avidamente, é que podem ser um problema.

Há que medir-se as consequências para conquistá-las.

E eu? Sou a louca que só quer continuar a andar descalça na chuva.

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