Temporal de sentimentos e idéias
Chove muito, estou descalça e meus pés cheios de lama.
Lama fresca e avermelhada, feita com terra e água
pura.
Pulo nas poças do caminho com firmeza.
Faço com que a água barrenta espirre para todos os
lados.
A água escorre pelo meu rosto fazendo cócegas.
Meus cabelos e
minha roupa estão deliciosamente ensopados.
Sinto-me livre, pura e limpa.
Meu canto é desafinado, mas canto mesmo assim.
Minhas pernas estão fracas, porém continuo a
caminhada.
Deixo as dores para trás e mantenho meu olhar no
agora.
A natureza também é lavada, o verde brilha ao meu
redor.
Ouço barulho de água, parece que há um rio por perto.
Vou ao seu encontro e percebo que ele está apressado.
Para que correr? Isso não mudará o seu destino.
Eu? Não tenho pressa, paro e observo tudo com
tranquilidade.
A natureza sempre traz mensagens para quem está atento.
Eu e ela estamos em comunhão.
Parece irreal, e talvez o seja aos olhos de um simples
mortal.
Para quem só sabe olhar posso parecer uma louca, suja
e desgrenhada.
O que eles pensam não faz diferença, só sabem julgar
as aparências.
Louca eu? É obvio que sim.
Quem além de mim sairia por ai com um tempo desses sem
proteção?
Alguns podem até ter vontade, mas estão presos ao
medo.
Medo eu? Só um,
o de ser normal.
Não quero me misturar com a multidão.
Amo ficar por aqui, andando descalça na chuva e com os
pés enlameados.
Alguns, no entanto, andam com seus sapatos sociais, desconfortáveis
e imundos de prosperidade e riqueza.
Deixando em suas pegadas a marca das dores dos que
pisaram.
Nada tenho nada contra essas duas damas, a Prosperidade
e a Riqueza.
Os que correm atrás delas avidamente, é que podem ser
um problema.
Há que medir-se as consequências para conquistá-las.
E eu? Sou a louca que só quer continuar a andar
descalça na chuva.
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