terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Frio


Frio

Venta e está frio, fecho as janelas, quero minimizar a dor e o sofrimento.

 O vento gelado entra cantando furtivamente pelas frestas.

 O frio está por toda parte, ele me ataca desde o chão, paredes e tetos. Não há como fugir, ambos penetram em meu corpo frágil e indefeso.

Agasalho-me mais, porém meu corpo continua frio e doendo.

Ouço uma cigarra cantando lá fora, vejo o Sol através dos vidros da janela. Como pode ser? Não entendo algo tão contraditório. Agora só falta uma chuva de verão, um arco-íris para completar a sinfonia de acordes tão modernos e destoantes.

O planeta está diferente, muda continuamente com uma velocidade incrível.

Tenho certeza que a Terra é implacável, ninguém pode prever e muito menos controlar as respostas que ela impõe.

Quatro estações definidas? Não mais.

 Um dia têm 24 horas? Não creio.

Há um mundo lindo lá fora? Fora? Fora de que? Fora de onde?

Há coisas lindas lá fora? Sim e muitas é só saber procurar.

O frio é paralisante e se apropria do meu ser. Ele quer que eu o sinta e só a ele. Egoísta, dominador e ignorante, ele não me deixa pensar nem refletir. Quer-me inteira.

Tudo vai perdendo a força, o vigor, integridade e a sanidade.

Quero sair e ficar exposta ao Sol, meu corpo precisa do seu calor da sua luz. Mas que nada, ouço o vento cantar e sinto o frio na carne.

Miragem! Oasis! Aparência!

Esta é a palavra chave: aparência. Vivemos de aparências e quando vamos tocá-las elas se dissolvem no ar, simplesmente desintegram.

Lá fora aparentemente faz calor, uma cigarra canta, há Sol.  Meras ilusões de verão faz frio no país tropical.

Usemos estas referencias e façamos paralelos com outras passagens da vida, veremos que muitas vezes nos enganamos com as aparências e que sofremos com a ilusão. Fazer os paralelos dá muito trabalho, temos que pensar. A esta altura dos acontecimentos de que me vale pensar?

Procuro manter meus olhos abertos, luto contra o frio. Quero colo ou algo aconchegante que me aqueça.

Estou cansada de lutar, vitória para o frio eu vou hibernar.

                                                                                Viviana Moreira

Como? Depende!


Como? Depende!

A mente! Ela não para, cavalo selvagem. Ideias surgem aos borbotões e passeiam sem direção.

Como dominá-la? Fazer com que esqueça as coisas lúgubres do passado, que não perca tempo com um futuro incerto e que preste a devida atenção no presente.

Presente? A palavra em si já se basta.

Ver? Benção de poucos e olhar é para a maioria.

Escolha? Quero enxergar as coisas boas e lindas, estar atenta e retê-las o máximo possível. As feias e ruins, quero dar-lhes a devida tonalidade, usar nuances suaves, sem carregar na tinta, sugar-lhes a lição e de pronto esquecê-las.

Como desatar os nós?Tenho algo atravessado na garganta, trago a voz embargada e os olhos marejados.

Qual é a causa desta agonia? Será de algo que fiz ou que deixei por fazer? Algo que falei ou do que deixei por dizer?

Tudo é ambíguo, volátil e incerto.

Como alcançar o caminho do meio, a ausência do desejo e sem ilusões.

Um milésimo de segundo separa um atleta da almejada medalha.

Uma resposta errada separa o vestibulando da faculdade.

Derrota, fracasso, perda, penar, pena.

Desperdiçamos vidas inteiras, indo e vindo rotineiramente, sem refletir.

Somos seres arrogantes, perecíveis e às vezes descartáveis.

Perecíveis sim, e levar isto em consideração não é irrelevante.

Adoecemos, envelhecemos, encarquilhamos, encolhemos, perdemos

a casca que nos reveste e apodrecemos. Lógico que podemos pular alguma etapa, mas do fim ninguém escapa.

            Somos únicos, mas nem por isso temos a importância que nos damos. Tudo depende muito desde onde nos olhamos. Podemos ser um grão invisível de poeira, podemos ser apenas um dos sete bilhões de habitantes do planeta, podemos ser um elemento de um pequeno núcleo, podemos ser nosso próprio centro.

Quanto a receber atenção? Isso é raro, ninguém tem tempo a perder. Parecemos ser invisíveis, quando nos percebem não nos vem, nunca achamos que temos o que merecemos. Nada é suficiente.

            Podemos tudo e simultaneamente não podemos nada. Tudo depende. Depende de que? Existem perguntas que nunca deveriam ser proferidas, elas têm infinitas interpretações, e as respostas podem ser verdadeiras, dúbias, evasivas, irreais, falsas ou simplesmente vazias.

O que é a verdade? Esta é mutante, a minha verdade provavelmente não corresponde a sua e muito menos a deles. Caímos novamente no depende. É assim mesmo, tudo depende, varia, é relativo.

Certezas? Só duas: a de que é uma ilusão pensar que possuo alguma coisa, de que existe algo que de fato é meu e a outra é de que a morte é um fato. Tudo tão contraditório. Se de fato não possuo nada, por que a morte é minha de fato? Logo concluo que uma das duas certezas que tenho é falsa. Qual é? Ah! Não vou morrer.

Morte? Não! Fim? Não!

Sair por aí sem lenço, sem documento, sem bagagem. A favor ou contra o vento, não importa.

O meu Eu esteve, está e estará.  Em algum momento alcançará a paz, será luz e em outros tempos talvez meu Eu volte em outra casca.

Quem sabe? Tudo depende.

Viviana Moreira

Amada Betina!


Teresópolis, 16 de fevereiro de 2012.




Amada Betina!




Fruto do amor! Desejada, mas concebida na hora que escolheste.

Teus pais pensaram que você demoraria um pouco mais em chegar, pregaste-lhes a primeira peça, mostrando que tinhas pressa e que quem mandava no pedaço era você. Deus já tinha concedido o teu liberty-card.

Que susto no oitavo mês! Acredito que foi só para dar um toque na galera como dizendo: – Quero todos perto de mim, estou quase chegando. Papai na França? Vovó no sul? Fim de fevereiro? Nem pensar, eu sou a rainha da festa e quero todos os meus súditos por perto.

Menina Betina, que demora a de ontem! Fiquei preocupada, com você e com a mamãe. Danadinha! Mostrou mais uma vez a que veio, muito bla bla bla dos médicos, mas Deus escreveu e você obedeceu, nasceu na hora que tinha que nascer e deixando os que te aguardavam fora da sala de parto com o coração na mão. Cadê Betina? Por que Betina está demorando tanto?

Mamãe queria parto normal e você respondeu como dizendo: não estou a fim não, podem até tentar,mas eu quero cesariana.

Seus desejos foram todos atendidos, tanto é verdade que não precisou chorar muito, no berçário nem uma lágrima. Nós por detrás do vidro, pasmos, embevecidos, enfeitiçados com a tua presença. Linda!

Fizestes caras e bocas, no teu rosto já havia a expressão de uma doce e determinada menina, nunca a de uma recém-nascida. Que SHOW!

Naquele momento não pude fazer nenhum tipo de depoimento, ainda estava enfeitiçada por ti, nada do que eu falasse ou escrevesse conseguiria traduzir o que eu estava sentindo.

O que eu desejo para você? Huhuhu!!! São muitas coisas e é obvio que todas boas, tentarei agora com um pouco mais de serenidade dizê-las:


Que Deus te proteja, abençoe e ilumine sempre.

Que a vida seja gentil contigo.

Que os adultos que te cercam tenham a sensibilidade de compreender e suprir as tuas necessidades mais verdadeiras.

Que a fé, a alegria, a saúde, a paz e o AMOR estejam sempre presentes.

Que sejas perseverante e que tenhas paciência para alcançar teus sonhos.

Que mantenhas o brilho que te foi dado.

Linda criatura abençoada por Deus, meus desejos são infinitos, porém tem um que para mim é muito importante: que ames esta tua avó, que não é de sangue, mas de coração e que saibas que ela já te ama faz muito tempo.



Um beijo na alma da:



 Vovó Vivi   





Ps.: Gosto muito de teus pais e me identifico muito com a mamãe.  Parabéns Betina soubestes escolher!

Perdoe o meu português ruim.

Migalhas


Migalhas e outras coisas...

            Você se satisfaz com migalhas ou com restos?

            Em caso de resposta positiva: você pode ser um cachorro de rua, um porco, uma galinha, um pombo ou então, quem sabe, uma pessoa equilibrada e feliz. Caso você se encontre neste último grupo: meus parabéns! Você é um vencedor.

            Por que será que sempre acho que mereço mais amor e atenção do que recebo? Será que é porque não sou a Mulher Maravilha e a minha conta bancaria não tem um milhão de dólares.

Sou ciumenta, possessiva, insegura e dramaticamente exagerada. Atualmente vivo em uma situação econômica instável, ou seja, em português claro: na merda como a maioria dos habitantes deste planetinha que um dia já foi azul.

Estou filha por um fio, papai já era e mamãe tem câncer, pedindo literalmente para morrer já faz tempo. Eu? Sou uma piada. Tive três filhos, fui Mãe com todas as letras, ou seja: amorosa, babá, cozinheira, arrumadeira, lavadeira, passadeira, faxineira, costureira (especialista em fazer remendos), boa administradora (na minha casa nunca faltou comida), enfermeira, criativa na arte de recrear, corretora de imóveis, professora, etc. No momento estou desempregada e lutando para conseguir uma aposentadoria por invalidez, já que me encontro doente física e o que é pior, mentalmente.

Meus dias se intercalam entre dois desejos: em uns morrer e em outros matar.

O que eu mais gosto é de ser artista plástica. Que maravilha! Às vezes desenho ou pinto alguma coisa, parece que estou de luto fechado, mas também gosto de escrever e tem sido muito bom e terapêutico. Existem alguns probleminhas nestas atividades: eu não valorizo minhas criações, as pessoas ditas normais também não gostam e nada do que faço me rende um tostão. 

Atenção! Descobri que tenho uma coisinha chamada ego que se não for bem domesticado pode decretar minha ruína e como ele anda fosco e tosco, acabo de decidir que vou lustrá-lo e dar-lhe um pouco de atenção.

Vamos lá ego fofinho da mamãe! Sei que mereço tudo de bom, mas se as pessoas têm pouco ou quase nada para me ofertar: danem-se! Elas é que estão perdendo. É isso mesmo, elas perdem a oportunidade de degustar o sabor doce e sarcástico da minha companhia, o meu humor ou a falta dele, minha sabedoria limitada e a disposição de sempre aprender mais, mesmo que isso seja um pouco difícil, pois creio que empaquei na burrice crônica que assola o continente. Em fim, tem gente perdendo a oportunidade de conviver com todos os meus atributos e contrastes, estes que me fazem ser essa pessoa interessante, maravilhosa e incomum. Aplausos por favor! Obrigada!

Um fato importante, eu detesto gente normal, estafermos e equilibradinhos. Eles são enfadonhos, falsos e de caráter discutível. Quase sempre acerto as suas falas antes que elas as profiram, parecem feitas por encomenda e todas na mesma fôrma. Geralmente estas pessoas chegam dizendo: – Oi minha querida! E dão-te dois beijinhos gelados e babados nas bochechas. Caralho! Que nojo! Elas geralmente não me querem e a recíproca é sempre verdadeira, se não se aproximassem e dessem os dois beijinhos de longe não contaminariam a minha aura e seria perfeito.

Sou arrogante, pretensiosa e egocêntrica? Posso até parecer, mas infelizmente não sou, pois se fosse, com certeza seria mais feliz e vocês pobres mortais não seriam nada além do que a minha plateia.

Não quero desejar nada das pessoas, nada da vida, é simplesmente:

 n-a-d-a. Este é o caminho para a felicidade, se pouco ou nada te dão está ótimo, tudo é lucro.

Fácil julgar! Fácil criticar! Fácil falar! Fácil aconselhar! O difícil é fazer o que tem que ser feito, principalmente se no momento da ação nem desconfiamos do que se trata.

Faça o que eu digo não faça o que eu faço – também é uma prática muito fácil de aplicar, mas totalmente falsa. Verdade?

Acabo de descobrir que se alguém só pode te dar migalhas, que assim seja, é melhor receber migalhas sinceras do que um monte de bla bla bla inútil e falso.

Pessoas como eu gostam de se apropriar dos seus amados, querem atenção em tempo integral. Tem ciúmes deles com os outros familiares, com os amigos, com qualquer pessoa ou animal que se aproxime, acredito que gostaria de colocá-los em uma redoma onde só eu pudesse alcançá-los. É como se a convivência deles com os outros fosse estragá-los, gastá-los, afastá-los ou contaminá-los. Também, com tanta merda no ar!

Sou doente! Esqueço de que ninguém é de ninguém e que eu, entre eles, também não tenho dono.

Nada é eterno. Por exemplo: os filhos crescem e se vão o que é natural, mas eu que sou a sua mãe quero protelar esse momento de libertá-los para que eles façam as suas vidas sozinhos, sem minha opinião ou interferência, que a esta altura, se já me dei conta destes fatos é porque passei do ponto e eles já se libertaram. Estou sobrando. Que otária!

 É fogo, pensar que quando ocupávamos o lugar de filhos tínhamos pressa para ser tratados como adultos e independentes. A mesmice do ser humano e a sua falta de criatividade às vezes assombra. Os séculos passam e algumas coisas não mudam. Que palhaçada!

Ah e o amor! Oh doce amor! A eterna procura da nossa metade da laranja! Acredito que os amores mais fugazes, aqueles que não se concretizaram na vida real ou os que foram interrompidos abruptamente, esses duram para a vida inteira e se escondem no reino da nossa fantasia. Obvio, não sofrem o desgaste do dia a dia, as pessoas amadas não são reais, são idealizadas em nossos devaneios e ficam para sempre perfeitos, estáticos e patéticos. Os cretinos nem envelhecem!

Creio que um dos segredos da vida é apreciar as pequenas coisas, pois é nelas que está o brilho da alegria.

Seriam as migalhas?

Não sua estúpida, as coisas simples.

Não quero mais ser aprendiz na arte de viver, a esta altura da vida já era para estar mais graduada e segura.

O mínimo que deveria saber é pôr minhas emoções no seu devido lugar, dominá-las e não o contrário.

Falar é fácil, a merda é pôr em prática, ouvir o que a voz da razão tem a dizer antes que a emoção me domine e me faça cometer burrices impulsivamente e por vezes irreparáveis.

Será que a minha razão fala e eu não a ouço? Será que ela cansou e está muda, aguardando reparos para voltar à ativa? Ou o mais trágico: cansada de tanta falta de atenção da minha parte, foi definhando e morreu.

Sou louca, contraditória, carente, depressiva crônica, masoquista, mas não sou perigosa, nem dona da verdade, principalmente porque não acredito nela, na verdade.

 Aconselho também a não me provocar e nem contrariar.

(Risos que começam baixinho, aparentemente despretensiosos e que vão evoluindo até se transformar em gargalhadas estrondosas e aterrorizadoras como as de uma bruxa louca).

Um dia, de um mês e de um ano qualquer em algúm lugar.


Um dia, de um mês e de um ano qualquer em um lugar comum.

Diálogos com Ninguém

Diálogo I

Alguém me pergunta: Quem é você e o que quer da vida?

Respondo a principio, com gargalhadas irônicas.

Eu? Você tem certeza do que está pedindo?

Alguém responde: Claro que tenho!         

Ele respondeu com muita convicção, logo não me restou alternativa. Prepare-se camarada que lá vai à resposta.

Sou um ser humano porque assim o dizem, mas, fora do contexto, pois não acredito nos homens, na dita lei dos homens, na educação dada nas escolas, sejam elas inferiores ou superiores, nos conceitos e preconceitos impostos por esta sociedade hipócrita e covarde.

Minha voz é inaudível, minha arte é incompreendida, os que a vem não gostam ou não podem enxergar o meu grito.

Minhas ideias são radicais e contrárias, logo, para alguns não existo, para outros sou desequilibrada ou chata.

Quero que o ser, dito humano, seja exterminado da face da Terra, pois Ela não tem culpa de nada e hoje é sofrimento, está irremediavelmente decepcionada, ferida, agonizante e triste.

Quero terremotos, tempestades, enchentes, secas, tsunamis, vulcões em erupção, ciclones, tornados, furacões... Aviões espatifando-se sobre torres gêmeas, trigêmeas, quadrigêmeas...

Quero que o planeta seja varrido e limpo. Aqui não existem inocentes, somos todos culpados. Culpados sim, uns porque são podres por natureza, outros por serem títeres participantes desta palhaçada cruel. Existem também os omissos e os que não fazem a menor diferença como eu.

Basta! Estou farta de discursos falsos, moralistas e sem sentido.

Estou cansada das manchetes nos jornais, de perceber que o homem sempre pode ser mais cruel. Não temos salvação.

Não pertenço a nenhuma tribo, não quero mais falar, ouvir nem ver.

Quero sair daqui, não pertenço a este lugar.

Não consigo agir nem reagir. Sinto-me suja, imunda, contaminada, apodrecendo.

Muito tempo atrás eu achava que era forte, acreditava que podia mudar alguma coisa, sentia-me capaz. Hoje? Vejo-me como uma fera enjaulada, debatendo-se inutilmente contra as grades intransponíveis que de alguma maneira eu mesma me impus.

 Hoje? Descrente de tudo e de todos, acuada, ferida e cansada.

Pergunto então: Quem é você?

Eu? Eu sou Ninguém.

Acabo dando gargalhadas irônicas e afirmando: Eu já desconfiava.




Diálogo II



Repito a pergunta que Ninguém me fez: Quem é você e o que quer da vida?

– Já disse! Sou Ninguém. O que quero? Quero você! Sou ignorante e tenho sede de saber.

Espontaneamente escapam-me aquelas gargalhadas irônicas que fazem parte do meu ser. Depois de passados alguns instantes, respondo:

            – Meu querido, você tem certeza do que está pedindo?  Pense, se você ignora fica muito mais fácil viver. Você é uma folha em branco e está pedindo que eu preencha. Esta é uma tarefa difícil, requer muita responsabilidade.

Eu sou uma folha quase que completa, com vícios, defeitos e contaminada pela existência. Tem certeza que quer os meus conhecimentos, os meus questionamentos? Em algum lugar devem existir seres mais apropriados para esta tarefa.

– Quero você! Insiste Ninguém.

– Tudo bem! Sorrindo, falo: Você não é deste planeta.

 Não estou apta para tanto, meu tempo como professora já era, mas perante tanta insistência não me resta alternativa a não ser falar.

Neste momento fez-se um branco em minha mente.

Por onde começar a explanação? Esta situação além de incomum é muito louca para a minha cabeça. Vivo o momento da negação, dentro de um turbilhão de sentimentos. As imagens e ideias passam por mim em uma velocidade inacreditável.

Passado ou presente? Perto ou longe? Verdade ou mentira? Sinceridade ou falsidade? Felicidade ou tristeza? Certo ou errado? Bom ou mau? Bem ou mal? Bonito ou feio? Vida ou morte? Guerra ou paz? Moral ou imoral? Coragem ou medo? Tolerância ou intolerância? Claridade ou escuridão? Visão ou cegueira? Audição ou surdez? Doce ou amargo? Tato? Olfato? Honra? Pureza? Amizade? Solidariedade? Respeito? Fidelidade? Compreensão? Dedicação? Ternura? Gentileza? Tolerância? Paciência? Harmonia? Bondade? Dignidade? Alegria? Liberdade? Cumplicidade? Pureza? Sabedoria? Inteligência? Diálogo? Criatividade? Trabalho? Valor? Ética? Postura? Perdão? Igualdade? Imparcialidade? Equilíbrio? Fé? Amor? Saudade? Ansiedade? Conveniência? Obrigatoriedade? Vergonha? Ignorância? Degradação? Corrupção? Manipulação? Soberba?  Apego? Traição? Egoísmo? Ira? Vingança? Violência? Sofrimento? Perda? Impunidade? Cansaço? Ilusão? Ciúme? Dor? Fim?!

Este último parágrafo poderia ser infinito, mas meu ser está esgotado, não estou a fim de refletir, ensinar, falar, dialogar e muito menos debater.

As coisas aqui já ultrapassam o sentido do que é lógico, não existem valores e muito menos modelos comprovadamente certos a seguir. Sinto-me vencida pela mediocridade.

Por quê? Para que? Por onde começar? Para onde ir?

Perdoe-me, mas é melhor você continuar sendo Ninguém do que entrar nesta roda.

Quer saber de uma coisa simples? Fica na sua e continua ignorando. Sai fora, antes que seja tarde, te corrompam e te joguem no sistema que chamam Vida.

Foge Ninguém! Foge e se puderes me leva contigo.


Diálogo III


– Olá! Oi! Ninguém! Você ainda está aí ou resolveu seguir o meu conselho de dar o fora?

Chamo por ele repetidas vezes, mas não obtenho resposta. Entretanto decido continuar a falar, afinal ele é um bom ouvinte.

Pausa, pois agora tenho que dar minhas gargalhadas irônicas, é inevitável. Falar com ninguém é ótimo!

– Querido Ninguém nem te conheço, mas já me afeiçoei. Tenho umas coisas para compartilhar contigo. Caí na asneira de mostrar os meus escritos à uma pessoa muito próxima a mim, e ela, direta e francamente respondeu-me o seguinte: Você pensa assim? Deveria dar um tiro na cabeça.

 – Eu já falei! As pessoas não me entendem. É uma merda.

– O telefone toca. Atendo, e uma mulher diz: Falo em nome do Lar de não sei quem, que abriga a não sei quantos velhinhos, mais outra tantas criancinhas (milhares), peço uma colaboração de 50 reais para repor o leitinho, as fraldinhas... Nem espero ela acabar de falar, a resposta sai da minha boca sem pestanejar: Minha senhora; encontro-me na mesma situação, preciso de ajuda. Ela meio sem graça respondeu que esperava que eu encontrasse alguém que o fizesse. Respondo dizendo amém e desligo.

 – Puta que pariu, eu nunca ouvi falar do tal Lar, que pelo número de pessoas que a tal disse que abrigava já deveria ser quase uma cidade. Estou tranquila no meu canto e uma fulana, vinda de não sei aonde vem interromper meu raciocínio, assim abruptamente. Nada contra os velhinhos, muito menos contra as criancinhas, mas tudo contra golpistas mentirosos e o papo furado fora de hora e lugar.

Que saco! Sorrio, pois me lembro dos meus alunos, eles tinham por hábito usar essa expressão e eu a detestava.

Não creia que sou insensível, mas aqui temos que estar preparados para todo tipo de falcatrua. Existem uns espertinhos que se aproveitam para falar em nome dos desfavorecidos para tirar-te o sangue. Ponham aqui na porta da minha casa uma dessas pessoas desfavorecidas e deixem que eu a ajude, mas chantagem emocional não. Vão todos para os quintos dos infernos. Onde fica? Não tenho a menor ideia, mas é muito comum por aqui usar esta expressão e existem outras bem piores que deixarei para usar, quando formos mais íntimos.

–Onde é mesmo que paramos? Ah! Lembrei: no tiro na cabeça. Pois é, isso é contra a minha religião e contra os meus princípios, logo, não posso matar-me. Você deve estar se perguntando qual é a minha religião? Desculpa amigo, ela é só minha você não a entenderia por mais que eu explicasse, porém para não deixar-te sem resposta, conto-te que afirmo todos os dias que tenho fé, rezo e acredito em Deus.

Agora me vem à cabeça pedacinhos de melodias e letras de músicas tipo:

– Dizem que sou louco por pensar assim...

– A vida vai melhorar, a vida vai melhorar...

– Mamãe! Mamãe! Mamãe!

– Lava roupa todo dia, que agonia... Ouço o ruído da máquina centrifugando a roupa, tenho que partir e pendurá-la no varal. Até!



Diálogo IV


 Ser mãe, o que é isso? Bela pergunta me faço.

 Quando ela é boa, dedicada e amorosa, geralmente é valorizada por seus filhos quando está doente, velha ou após sua morte, mas na maioria das vezes nem é reconhecida. Lógico que existem exceções.  

Os filhos acham que ela não faz mais do que sua obrigação, a culpam por um monte de coisas, mesmo que ela tenha se esforçado sempre para dar o melhor de si, ainda que tenha feito de tudo para poupá-los, defendê-los e educá-los. Ela não passa de ser ultrapassado, quase obsoleto, um farrapo velho que talvez seja lembrado no Dia das Mães, no Natal ou quiçá em seu aniversário.

Quando ela não é boa mãe, ou seja: manipuladora, castradora, chantagista, egoísta, seca, pois não tem amor para dar, os efeitos sobre os filhos geralmente são catastróficos.

As gargalhadas irônicas ficam bem neste momento.

Dizem que ser mãe é padecer no paraíso. Cadê o paraíso? Não sei, só posso dizer que ser mãe para mim foi conhecer o amor incondicional e preocupar-me para o resto da vida. Para mim é impossível abandonar um filho a própria sorte, mesmo que já seja adulto.

Onde foi que eu errei? Em poupá-los demais e mimá-los compulsivamente.

Que droga!  Sou assim, com o mais puro e burro emocional que conheço. Que emocional! Coitadinho tão démodé e retardado.

Ah! Em compensação meu lado racional. Que beleza! Atrofiado, mas tão atrofiado que às vezes nem eu mesma consigo conectar- me com ele.

Acabo de descobrir que além da fibromialgia e de outras cositas más padeço de: idiotia, imbecilidade crônica e estou totalmente lesada.

Pergunto-me o que é ser filha ou filho?

Esta pergunta também é boa. Não é fácil, temos que respeitar e honrar os pais mesmo que achemos que eles estão totalmente errados. Depois que ficamos adultos temos a mania de julgá-los, criticá-los, culpá-los por tudo; lógico assim fica mais fácil do que assumir os próprios erros. Juramos que quando formos pais faremos tudo diferente.

Os meus não se saíram tão mal, existem uns que são verdadeiros monstros. Os perfeitos não existem. Aliás, pré- requisito no planeta amar os pais, amar os filhos, independente do que eles forem o que não quer dizer que isso seja uma regra seguida.

Criticar! Questionar! Desconfiar! Julgar! Que maravilha! Fazemos isso o tempo todo é muito fácil, encontrar as respostas certas é que é o problema.

Dou aquelas gargalhadas costumeiras e afirmo: Amai o próximo como a ti mesmo! Só Jesus!

            Paciência, muita paciência nesta hora. Respiro fundo e obviamente tusso, sou fumante e o pigarro também faz parte.

Minha consciência desperta por uns momentos e me diz: Não se faça de vítima, não tema, diminua a intensidade, tenha paciência, procure o equilíbrio, focalize-se com a realidade dos fatos friamente e vença os obstáculos. Você pode. Acredite!

Gostaria muito que minha consciência ficasse desperta por mais tempo, mas mesmo assim muito obrigada pelo toque.

            A realidade me chama, vou pegar a vassoura e a pá para recolher o lixo.


Diálogo V


            Socorro Ninguém!

            Quantas batalhas tenho que lutar?

            Quantas peças tenho que encenar?

            Quantas máscaras tenho que usar?

            Quantas personagens tenho que incorporar?

            Como voltar a roda da vida?

            Não estou nem nunca estive apta para enfrentamentos, só os faço quando são inevitáveis.

 Por que não posso ser eu mesma?

 Porque tenho que representar?

 Tenho que encontrar minha armadura, minha capa e espada. Procurar pelo que nunca tive seria uma tarefa difícil, e se os tive e os perdi, provavelmente foi porque não soube usá-los ou nem os reconheci. Pois é, aqui estou não vejo futuro, quero esquecer o passado e me esconder do presente. A verdade é que nunca soube me proteger.

Lutar, lutar e lutar. Estou farta! Sinto-me muito fraca, algumas feridas deixadas pelo passado estão expostas e outras aparentemente cicatrizadas, ainda machucam.

Algumas vezes sinto-me como Dom Quixote de La Mancha lutando contra os moinhos de vento, outras como Joana D’Arc queimando na fogueira.

Gostaria de ser como a Mercedez Soza que sabia expressar tão bem seus sentimentos, quer fosse com relação à vida, quer fosse para retratar o sofrimento ou a revolta de seu povo, e o mais importante, ela era ouvida.

Não tenho melodias, me faltam as letras, não tenho voz e não sei cantar. Faltam-me atributos. Como posso então cantar a minha visão do mundo, da vida, do povo, cantar minha revolta, as dores da gente e as minhas?

O que querem de mim? O que eu quero?

Uma ave ferida gravemente não voa, não come, não canta. Ela fica acuada, escondida em algum canto, triste, esperando que a morte venha lhe buscar.

Estou ferida, porém não espero a morte, mas sim busco uma saída e não a vejo. Será, que para defender-me, vendei meus olhos, se foi assim, só serviu para dificultar meu caminhar, pois não me impediu de sentir na pele os horrores da vida. Que ridícula!

A capacidade que o ser humano tem em superar-se em sua maldade é inaceitável e incrível. Ele muda mais rápido do que um camaleão é tão rápido que na maioria das vezes ficamos indefesos, e com o tempo acreditamos que isso é natural, nos habituamos tanto a crueldade que por vezes nem a notamos. Não consigo acreditar que ser perverso tenha que fazer parte do perfil de nenhum ser, muito menos o dito racional.

            O mundo, a humanidade está perdida? Creio que sim, mas não sou a dona da verdade. Espero um milagre, ou melhor, muitos milagres.

Certezas? Tenho algumas, por exemplo: o planeta Terra é a coisa mais bela que Deus nos deu e que o homem estragou. Amo a natureza com todo o seu esplendor, e por falar em amor, neste momento tenho um insight. Pode ser a salvação! Pronto! Achei uma saída! É óbvio o que falta é amor.


Diálogo VI

Ninguém resolve dar o ar da graça e assim como quem não quer nada pergunta:

– O que é o amor?

– Caramba! Que susto! Onde você estava? Some e reaparece assim do nada, como em um passe de mágica.

– É que eu só me manifesto quando o assunto me interessa ou quando parece ser importante.

– Você está insinuando que o que eu digo não serve para nada? Seu...

– Calma! Não quero participar de falas que a meu ver pareçam desinteressantes ou que não acrescentem nada de especial ao meu ser. Estou em fase de crescimento, quero agregar coisas boas, positivas e que possa tirar proveito.

– Tudo bem, respeito sua forma de pensar desde que respeite a minha. Vamos à resposta, ou melhor, as respostas.

Meu amigo, esta pergunta é difícil, primeiro porque atualmente se fala muito em amor, mas na prática, raramente se pratica. Depois porque o uso indiscriminado e inadequado roubou-lhe o verdadeiro sentido e transformou-o em algo banal, corriqueiro, falso e sem o devido teor.

– Alguém reclama: Você está fugindo da resposta, está só justificando a falta dele, quero saber o que é o amor?

–Não posso definir a palavra amor, sem refletir, ela é muito importante. Não existe um sinônimo, uma só palavra não o contém ele é muito complexo.

Amor! Amar! Amado! Amada! Amando!  Amados!

– Calma Ninguém! A paciência é uma grande virtude e saber ouvir também.

            Penso comigo: também tenho que ter paciência. Tenho que lavar a roupa e a louça, tenho que cozinhar, tenho que dar faxina nos banheiros, tenho que cuidar das plantas e dos animais do lar doce lar, tenho que varrer, tenho que tirar o pó, tenho que limpar os vidros, tenho que cozinhar, tenho que ter dinheiro para pagar as contas no fim do mês, tenho que ouvir, etc.

Ufa! Cansei só de pensar e de escrever sobre alguns dos tenho que tenho que fazer. Não cumpro todos é claro, faltam-me forças, tempo, e às vezes vontade para isso.

            – Ninguém diz irritado: Quero a minha resposta! O que é o amor?

            – Você está me acuando e eu não gosto disto. O problema é que ainda não encontrei uma resposta que ache convincente, completa e verdadeira.

Preste atenção! Aqui na Terra sempre temos duas situações. Para ser mais sucinta: como posso amar o belo se desconheço o que é feio? Se não existe a escuridão não sei o que é a luz e por aí vai, a lista dos opostos é longa, eles têm que existir para que possamos fazer nossas escolhas.

            Vou falar do que amo, depois do desamor que vejo estampado no dia a dia e aí você tira as suas próprias conclusões, use o seu poder de dedução, se é que você sabe o que é isso.

            Amo a Terra, sua natureza indecifrável, mística, única e indiscutivelmente bela. Pode ser serena e tranquila, outras vezes ela revida os males que lhe atingem magnificamente, implacavelmente e sem piedade.

            Como não amar os reinos: animal, vegetal e mineral? Para mim é impossível, se bem que existem algumas exceções. Detesto os bichos como: aranhas, formigas, ratos, baratas, mosquitos, etc.

            Vou te dar um exemplo: tenho um canteiro com plantas que semeei com todo o meu amor, coloquei terra especialmente preparada para elas, rego-as sempre que necessário, falo com elas, lhes dou amor, carinho e adubo. Observo-as crescendo aos poucos, depois que crescem e me brindam com a beleza de suas flores, como que me agradecendo e aí... Vem à praga das formigas, as fere mortalmente e as destrói. Que faço? Fico muito zangada e não quero nem saber se o pato é macho, veneno nelas, as persigo sem trégua até exterminá-las por completo.

            Ouvi dizer que tudo no planeta tem sua função, seu porquê de existir.

Qual é o das formigas? Servem de quitute para algumas tribos, para os orientais, e para os tamanduás, até aqui tudo muito positivo, mas algumas espécies cometem o crime de se alimentar de plantas.

 Ah! Queridas formigas, vocês podem tudo, desde que se mantenham longe das minhas plantas.

Onde eu moro não existem tribos, orientais, nem tamanduás, e eu desconheço alguma outra função que seja positiva, logo para mim não são um manjar, são uma praga.

Morte as formigas que vem se alimentar no meu jardim! Acho isto muito justo, elas com certeza não devem achar, aliás, não creio que elas achem nada, mas também são criaturas de Deus. Oh! Sou uma criminosa.

– Ninguém, você está me entendendo?

            – Ele responde com gargalhadas irônicas.

– Filho da mãe! Você aprende rápido, seu irreverente, sacana e debochado. Pois lá vai uma pergunta: Você já se dedicou a criar alguma coisa? Aposto que não, pois saiba que somos responsáveis por aquilo que criamos. Se eu criasse tamanduás, viveria catando formigueiros ou criando formigas para alimentá-los.

Ora bolas! Quer saber de uma coisa, como eu já disse anteriormente: morte as formigas e sem o menor remorso. Amo as minhas plantas e defendo-as a qualquer preço, principalmente porque elas são indefesas, não incomodam ninguém, só são belas e enfeitam. Cuidá-las e admirá-las me purifica, pacifica, eleva o meu ser.

Existe também o amor incondicional ao seu semelhante, este então é o maior de todos, não impõe condições, não depende de reciprocidade e não tem preço.

Pois bem, até agora eu só experimentei uma forma de amor incondicional que é o amor que sinto por meus filhos. Como posso explicar este sentimento? Ele é insubstituível, incomparável, superior, não tem medida, só algumas mães têm capacidade de senti-lo e eu felizmente sou uma das agraciadas com este dom.

Jesus Cristo pregou um tipo de amor muito célebre: ama o próximo como a ti mesmo. Este tipo, na atualidade, para mim, é impraticável, parece-me uma piada, que me desculpe Jesus. Talvez seja porque o próximo me sugere a ideia de perigo, dor, nojo, traição e de medo, logo, há a necessidade de defesa.

Uma coisa que praticamos muito é o ataque, dizem que é a melhor defesa, então meu caro amigo, estamos todos em posição de ataque, muitas das vezes nem sabemos o porquê, mas atacamos seja com palavras, seja com atitudes, mas geralmente atacamos.

Nossos corações estão enrijecendo, estamos perdendo a ternura, a fé.



                                                                 Diálogo VII

– O que é a fé?

– Caramba Ninguém! Você tem cada pergunta. Mal consigo explicar o que é amor e você já emplaca com uma pergunta desse porte.

Fé é acreditar com toda convicção, é a não existência de dúvida. A fé pode estar em toda parte. Fé no presente, no futuro, em dias melhores, na vida, em uma determinada religião ou crença, em Deus.

Esta última é a mais complicada, porque temos que ter uma definição, uma ideia do que Ele é do que significa. Existe uma infinidade de religiões pregando Deus de diferentes maneiras e brigando entre si para ver quem é a dona da verdade.

 Não tenho a menor ideia de quantas religiões existem no planeta, tenho simpatia por algumas, mas não sigo nenhuma, primeiro por ignorância e em segundo lugar por não acreditar que Deus possa ser encapsulado, enjaulado, preso em um determinado lugar e muito menos que tenha dono.

Vejo Deus em toda parte, está nas pequenas e nas grandes coisas. Ele está em mim em você, é único, não tem medida, não tem forma. Está no ar que respiro, na água que bebo, nos alimentos, é onipresente e onipotente. Não creio em um Deus que julgue e que puna, ele é o amor mais puro e incomensurável. Ele é criação, jamais destruição, é a cura, nunca a doença, é o bem oposto do mal.

Neste momento o mal e os maus são maioria, a coisa está desequilibrada. De quem é a culpa?  Nós, os seres humanos somos os únicos culpados.

– Por que você acredita que os seres humanos são únicos culpados?

– Porque perdemos a noção das coisas, a grande maioria está cega, outros vêm, mas não enxergam, existem os que se sentem impotentes na frente desta batalha onde não há vencedores.

Os sentimentos predominantes são: vaidade, egoísmo, cobiça, ganância, inveja e o desejo desmedido do poder.

Ah o poder! Ah a posse! Lembro-me da felicidade estampada na face das crianças quando têm a melhor nota da turma, quando ganham uma competição, quando recebem um presente melhor do que o coleguinha ou do que seus próprios irmãos, eles se sentem poderosos e superiores. Esses sentimentos se alastram e sem sentir fazem parte da vida adulta como se fossem naturais.

Que efeito catastrófico! Como ficam os colegas da turma que tem notas menores, os coleguinhas que perderam a competição e os irmãos que se sentem preteridos?

Se fizermos um calculo é claro que estes seres que a principio são tidos como inferiores, perdedores, serão a grande maioria e que ao chegar à fase adulta provavelmente farão de tudo para alcançar o topo. A sede de vingança foi incorporada. Alguns conseguirão chegar, outros ocuparão eternamente os últimos lugares da fila.

As crianças quando adultas, falo especialmente daquelas que ocupavam o topo, as que estavam sempre ocupando os primeiros lugares, pois é, nem sempre conseguem manter suas posições e quando chegam as que vêm de baixo e as ultrapassam... Caramba, instala-se a frustração, o ódio e o caos. É raro, mas as posições na disputa pelo poder, às vezes se invertem.

A educação está errada! Em casa, nas escolas e nas ruas.


Diálogo VIII

            Ontem estava olhando uma cadeia de montanhas pela janela, e esta visão me fez refletir, questionar. Aliás, é isso que faço o tempo todo, pensar, refletir, questionar, sempre tentando entender; procurando respostas.

Voltando a cadeia de montanhas, quis me lembrar em como se classifica o relevo. Seria em: planícies, planaltos, cordilheiras, montanhas, serrado... Parece que faltei a todas as aulas de geografia, o que não é verdade.

Agora sinto falta do saber e da cultura que um dia desdenhei.

            Quando adolescente, o colégio era sinônimo de prisão, de coisas que não me despertavam o menor interesse, naquele momento eu queria o mundo lá fora, os amigos, ver o por do sol no Arpoador, a praia, passear no Jardim Botânico, ir ao cinema, enfim diversão.

Não via a menor utilidade na escola, não fazia sentido, para quê aprender trigonometria, álgebra, geometria, geografia, química, historia, português, inglês, etc. As aulas e os professores eram chatos, quando podia, dava um jeito de perder a hora ou simplesmente matava aula. Esperava os feriados e as férias com ansiedade. Meu sentimento para com a escola e para com todos os ensinamentos que ela englobava era tão ruim que eu preferia ficar em casa doente do ter que aturá-la.  

            A escola de hoje continua igual, desinteressante, ultrapassada e decadente. Os alunos, salvo algumas exceções, não a suportam mais.

Onde está o erro? Está na metodologia, no pedagogês, na falta de disciplina e na politicagem. Entre tantas coisas erradas podemos acrescentar os fatos de que não se pode reprovar um aluno, chamar sua atenção, aliás, é melhor nem tocá-lo, pode ser visto como assédio sexual.

Tantos erros acarretam em defasagem e a ausência dos alunos. Para quê ir à escola?

            Em casa os pais estão cada vez mais ausentes e permissivos. Os pequenos podem tudo. Não vamos traumatizar as crianças!

            Quando em casa, ficam na frente de uma tela de televisão, jogando vídeo games ou navegando em sites improdutivos da internet.

            Na rua! Ficam expostos a todo tipo de violência e drogas.

            Quero um mestre!

            Onde estão os valores como a ética, sinceridade, honra, respeito, integridade, lealdade e moral? Caíram em desuso.

O que tem valia é ser esperto, corrupto, viver na ilegalidade, na marginalidade, levar vantagem em tudo custe o que custar.

             Não consigo me enquadrar, ser conivente, estou fora do compasso atual.

O que acontece me machuca e me revolta, meu sangue ferve. Vejo muitas coisas erradas, a impunidade, a covardia e a deslealdade são a ordem do dia.

            Para mim é muito fácil detectar o que está errado, encontrar a maneira de consertar as coisas está fora do meu alcance, logo é como alguns dizem: É chover no molhado.

Eu não sou daqui

Marinheiro só

Eu não tenho amor

Marinheiro só

Eu tenho Ninguém.

           

Diálogo IX

Ei ninguém!  Acorda! Presta atenção!

Outros lances interessantes são os costumes, os hábitos, os modismos, que geralmente são importados dos EUA e estão mudando a nossa cara latina.

Os modelos que adaptados a nossa realidade geram um belo caos.

Por exemplo, quando se trata da sexualidade dos jovens a coisa funciona mais ou menos assim:

Meu filho é um galinha. Que maravilha! Responde a sociedade.

Minha filha adora dar beijo na boca e ficar com meninos, ou seja, lá qual for o termo usado no momento.  É uma vadia! Excluam-na! Determina a sociedade.

O filho de fulana é gay. Fora com ele! Não serve, é uma laranja podre. Vamos ficar de olho na família dele também.

A filha de fulano é sapatão. Oh! Qué horror! Que nojo! Não quero nem saber, que queime no fogo do inferno.

O que ocorre agora é muito interessante: os jovens decidiram dar um nó na cabeça dos ditos adultos, os tais que são os donos da bola, os que têm poder, os juízes que determinam os que permanecem, os quem saem do jogo, os que ganham ou os que perdem.

É meu caro, a juventude está dando um nó na cabeça da sociedade: o bom é ser bi.

– O que é isso de bi? Pergunta ninguém.

– É uma zona, no bom sentido da palavra. As gargalhadas fogem ao me controle.

Bi sexual! Meninos com meninos e com meninas e vice-versa. Entendeu? Tudo misturado, sexo, bebidas e drogas liberados. Vale tudo!

Uhu! Que se danem os adultos! Nós podemos tudo, somos o centro do universo, nós podemos mais, pensam eles. Estão na moda e a cada dia que passa tem mais adeptos. É up!

Uhu! Exclamo eu, quero ver como a sociedade vai se posicionar? Que tipo de adultos o planeta terá daqui a dez, vinte anos?

 – Muito estranho isso! Exclama meu amigo Ninguém.

– Meu querido, eu não sei da missa a metade e sinceramente não estou interessada em entender mais nada com relação as coisas que minha mente não consegue mais discernir.

Sinto-me um verdadeiro calhambeque. Como acompanhar esses modernismos que aparecem a cada minuto que passa?

Impossível! Além disso, no momento eu não passo de mera espectadora, já fui excluída também. Estou desempregada, sou cinquentona, estou doente, logo, não existo.

 Não sou política, nem consumista, não tenho roupas de grife, televisão 3D e nem possuo um carrão importado na garagem. Meus valores materiais estão quase zerados, logo, para eles eu não devo nem pensar,  sou carta fora do baralho.

Não tenho nenhum valor, um pé de alface é muito mais interessante e se comparado a uma picanha sangrenta, noooosssaaaa, já morri faz tempo e nem sei.

A esta altura dos acontecimentos e da minha vida, lamentavelmente só me restou observar.

As cartas já estão na mesa faz tempo e creio que o jogo não demora muito em acabar.

Já sei o que você está pensando, mas nem ouse me perguntar.

Como vai acabar? Provavelmente no fim.

O que é o fim? Tal vez seja a chance de um novo começo, um jogo totalmente novo, quiçá a chance de um novo tempo.

Enquanto esse novo tempo não chega tenho que salvar a minha pele e como disse meu amigo: Tenho que usar uma roupa nova, um escafandro, e mudar a expressão do meu rosto, fazer cara de paisagem.





Diálogo X

Querido Ninguém, não sei isto é um adeus ou um até breve.

Neste momento sinto-me enojada, quero calar-me.

            Desejo que você encontre paz, luz, fé, educação, saúde, amor e salvação.

            Um abraço!

                                                                                                 Viviana Moreira.