terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Migalhas


Migalhas e outras coisas...

            Você se satisfaz com migalhas ou com restos?

            Em caso de resposta positiva: você pode ser um cachorro de rua, um porco, uma galinha, um pombo ou então, quem sabe, uma pessoa equilibrada e feliz. Caso você se encontre neste último grupo: meus parabéns! Você é um vencedor.

            Por que será que sempre acho que mereço mais amor e atenção do que recebo? Será que é porque não sou a Mulher Maravilha e a minha conta bancaria não tem um milhão de dólares.

Sou ciumenta, possessiva, insegura e dramaticamente exagerada. Atualmente vivo em uma situação econômica instável, ou seja, em português claro: na merda como a maioria dos habitantes deste planetinha que um dia já foi azul.

Estou filha por um fio, papai já era e mamãe tem câncer, pedindo literalmente para morrer já faz tempo. Eu? Sou uma piada. Tive três filhos, fui Mãe com todas as letras, ou seja: amorosa, babá, cozinheira, arrumadeira, lavadeira, passadeira, faxineira, costureira (especialista em fazer remendos), boa administradora (na minha casa nunca faltou comida), enfermeira, criativa na arte de recrear, corretora de imóveis, professora, etc. No momento estou desempregada e lutando para conseguir uma aposentadoria por invalidez, já que me encontro doente física e o que é pior, mentalmente.

Meus dias se intercalam entre dois desejos: em uns morrer e em outros matar.

O que eu mais gosto é de ser artista plástica. Que maravilha! Às vezes desenho ou pinto alguma coisa, parece que estou de luto fechado, mas também gosto de escrever e tem sido muito bom e terapêutico. Existem alguns probleminhas nestas atividades: eu não valorizo minhas criações, as pessoas ditas normais também não gostam e nada do que faço me rende um tostão. 

Atenção! Descobri que tenho uma coisinha chamada ego que se não for bem domesticado pode decretar minha ruína e como ele anda fosco e tosco, acabo de decidir que vou lustrá-lo e dar-lhe um pouco de atenção.

Vamos lá ego fofinho da mamãe! Sei que mereço tudo de bom, mas se as pessoas têm pouco ou quase nada para me ofertar: danem-se! Elas é que estão perdendo. É isso mesmo, elas perdem a oportunidade de degustar o sabor doce e sarcástico da minha companhia, o meu humor ou a falta dele, minha sabedoria limitada e a disposição de sempre aprender mais, mesmo que isso seja um pouco difícil, pois creio que empaquei na burrice crônica que assola o continente. Em fim, tem gente perdendo a oportunidade de conviver com todos os meus atributos e contrastes, estes que me fazem ser essa pessoa interessante, maravilhosa e incomum. Aplausos por favor! Obrigada!

Um fato importante, eu detesto gente normal, estafermos e equilibradinhos. Eles são enfadonhos, falsos e de caráter discutível. Quase sempre acerto as suas falas antes que elas as profiram, parecem feitas por encomenda e todas na mesma fôrma. Geralmente estas pessoas chegam dizendo: – Oi minha querida! E dão-te dois beijinhos gelados e babados nas bochechas. Caralho! Que nojo! Elas geralmente não me querem e a recíproca é sempre verdadeira, se não se aproximassem e dessem os dois beijinhos de longe não contaminariam a minha aura e seria perfeito.

Sou arrogante, pretensiosa e egocêntrica? Posso até parecer, mas infelizmente não sou, pois se fosse, com certeza seria mais feliz e vocês pobres mortais não seriam nada além do que a minha plateia.

Não quero desejar nada das pessoas, nada da vida, é simplesmente:

 n-a-d-a. Este é o caminho para a felicidade, se pouco ou nada te dão está ótimo, tudo é lucro.

Fácil julgar! Fácil criticar! Fácil falar! Fácil aconselhar! O difícil é fazer o que tem que ser feito, principalmente se no momento da ação nem desconfiamos do que se trata.

Faça o que eu digo não faça o que eu faço – também é uma prática muito fácil de aplicar, mas totalmente falsa. Verdade?

Acabo de descobrir que se alguém só pode te dar migalhas, que assim seja, é melhor receber migalhas sinceras do que um monte de bla bla bla inútil e falso.

Pessoas como eu gostam de se apropriar dos seus amados, querem atenção em tempo integral. Tem ciúmes deles com os outros familiares, com os amigos, com qualquer pessoa ou animal que se aproxime, acredito que gostaria de colocá-los em uma redoma onde só eu pudesse alcançá-los. É como se a convivência deles com os outros fosse estragá-los, gastá-los, afastá-los ou contaminá-los. Também, com tanta merda no ar!

Sou doente! Esqueço de que ninguém é de ninguém e que eu, entre eles, também não tenho dono.

Nada é eterno. Por exemplo: os filhos crescem e se vão o que é natural, mas eu que sou a sua mãe quero protelar esse momento de libertá-los para que eles façam as suas vidas sozinhos, sem minha opinião ou interferência, que a esta altura, se já me dei conta destes fatos é porque passei do ponto e eles já se libertaram. Estou sobrando. Que otária!

 É fogo, pensar que quando ocupávamos o lugar de filhos tínhamos pressa para ser tratados como adultos e independentes. A mesmice do ser humano e a sua falta de criatividade às vezes assombra. Os séculos passam e algumas coisas não mudam. Que palhaçada!

Ah e o amor! Oh doce amor! A eterna procura da nossa metade da laranja! Acredito que os amores mais fugazes, aqueles que não se concretizaram na vida real ou os que foram interrompidos abruptamente, esses duram para a vida inteira e se escondem no reino da nossa fantasia. Obvio, não sofrem o desgaste do dia a dia, as pessoas amadas não são reais, são idealizadas em nossos devaneios e ficam para sempre perfeitos, estáticos e patéticos. Os cretinos nem envelhecem!

Creio que um dos segredos da vida é apreciar as pequenas coisas, pois é nelas que está o brilho da alegria.

Seriam as migalhas?

Não sua estúpida, as coisas simples.

Não quero mais ser aprendiz na arte de viver, a esta altura da vida já era para estar mais graduada e segura.

O mínimo que deveria saber é pôr minhas emoções no seu devido lugar, dominá-las e não o contrário.

Falar é fácil, a merda é pôr em prática, ouvir o que a voz da razão tem a dizer antes que a emoção me domine e me faça cometer burrices impulsivamente e por vezes irreparáveis.

Será que a minha razão fala e eu não a ouço? Será que ela cansou e está muda, aguardando reparos para voltar à ativa? Ou o mais trágico: cansada de tanta falta de atenção da minha parte, foi definhando e morreu.

Sou louca, contraditória, carente, depressiva crônica, masoquista, mas não sou perigosa, nem dona da verdade, principalmente porque não acredito nela, na verdade.

 Aconselho também a não me provocar e nem contrariar.

(Risos que começam baixinho, aparentemente despretensiosos e que vão evoluindo até se transformar em gargalhadas estrondosas e aterrorizadoras como as de uma bruxa louca).

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